quarta-feira, 25 de maio de 2011

Acidente com o Césio-137

Um dos maiores acidentes com o isótopo Césio-137 teve início no dia 13 de setembro de 1987, em Goiânia, Goiás. O desastre fez centenas de vítimas, todas contaminadas através de radiações emitidas por uma única cápsula que continha césio-137.
O instinto curioso de dois catadores de lixo e a falta de informação foram fatores que deram espaço ao ocorrido. Ao vasculharem as antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (também conhecido como Santa Casa de Misericórdia), no centro de Goiânia, tais homens se depararam com um aparelho de radioterapia abandonado. Então tiveram a infeliz ideia de remover a máquina com a ajuda de um carrinho de mão e levaram o equipamento até a casa de um deles.
O maior interesse dos catadores era o lucro que seria obtido com a venda das partes de metal e chumbo do aparelho para ferros-velhos da cidade. Leigos no assunto, não tinham a menor noção do que era aquela máquina e o que continha realmente em seu interior. Após retirarem as peças de seus interesses, o que levou cerca de cinco dias, venderam o que restou ao proprietário de um ferro-velho.
O dono do estabelecimento era Devair Alves Ferreira que, ao desmontar a máquina, expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), um pó branco parecido com o sal de cozinha que, no escuro, brilha com uma coloração azul.
Ele se encantou com o brilho azul emitido pela substância e resolveu exibir o achado a seus familiares, amigos e parte da vizinhança. Todos acreditavam estar diante de algo sobrenatural e alguns até levaram amostras para casa. A exibição do pó fluorescente decorreu 4 dias, e a área de risco aumentou, pois parte do equipamento de radioterapia também fora para outro ferro-velho, espalhando ainda mais o material radioativo.
Algumas horas após o contato com a substância, vítimas apareceram com os primeiros sintomas da contaminação (vômitos, náuseas, diarreia e tonturas). Um grande número de pessoas procurou hospitais e farmácias clamando dos mesmos sintomas. Como ninguém fazia ideia do que estava ocorrendo, tais enfermos foram medicados como portadores de uma doença contagiosa. Dias se passaram até que foi descoberta a possibilidade de se tratar de sintomas de uma Síndrome Aguda de Radiação.
Somente no dia 29 de setembro de 1987, após a esposa do dono do ferro-velho ter levado parte da máquina de radioterapia até a sede da Vigilância Sanitária, é que foi possível identificar os sintomas como sendo de contaminação radioativa.
Os médicos que receberam o equipamento solicitaram a presença de um físico nuclear para avaliar o acidente. Foi então que o físico Valter Mendes, de Goiânia, constatou que havia índices de radiação na Rua 57, do Setor Aeroporto, bem como nas suas imediações. Diante de tais evidências e do perigo que elas representavam, ele acionou imediatamente a Comissão Nacional Nuclear (CNEN).
O ocorrido foi informado ao chefe do Departamento de Instalações Nucleares, José Júlio Rosenthal, que se dirigiu no mesmo dia para Goiânia. No dia seguinte a equipe foi reforçada pela presença do médico Alexandre Rodrigues de Oliveira, da Nuclebrás (atualmente, Indústrias Nucleares do Brasil) e do médico Carlos Brandão da CNEN. Foi quando a secretaria de saúde do estado começou a realizar a triagem dos suspeitos de contaminação em um estádio de futebol da capital.
A primeira medida tomada foi separar todas as roupas das pessoas expostas ao material radioativo e lavá-las com água e sabão para a descontaminação externa. Após esse procedimento, as pessoas tomaram um quelante denominado de “azul da Prússia”. Tal substância elimina os efeitos da radiação, fazendo com que as partículas de césio saiam do organismo através da urina e das fezes.
As remediações não foram suficientes para evitar que alguns pacientes viessem a óbito. Entre as vítimas fatais estava a menina Leide das Neves, seu pai Ivo, Devair e sua esposa Maria Gabriela, e dois funcionários do ferro-velho. Posteriormente, mais pessoas morreram vítimas da contaminação com o material radioativo, entre eles funcionários que realizaram a limpeza do local.
O trabalho de descontaminação dos locais atingidos não foi fácil. A retirada de todo o material contaminado com o césio-137 rendeu cerca de 6000 toneladas de lixo (roupas, utensílios, materiais de construção etc.). Tal lixo radioativo encontra-se confinado em 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 contêineres (revestidos com concreto e aço) em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, onde deve ficar por aproximadamente 180 anos.
No ano de 1996, a Justiça julgou e condenou por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) três sócios e funcionários do antigo Instituto Goiano de Radioterapia (Santa Casa de Misericórdia) a três anos e dois meses de prisão, pena que foi substituída por prestação de serviços.
Atualmente, as vítimas reclamam da omissão do governo para a assistência da qual necessitam, tanto médica como de medicamentos. Fundaram a Associação de Vítimas contaminadas do Césio-137 e lutam contra o preconceito ainda existente.
O acidente com Césio-137 foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares.
 
Por Líria Alves
Graduada em Química
Equipe Brasil Escola

Acidente de Chernobyl


Os impactos do acidente em Chernobyl ainda preocupam autoridades e ambientalistas.
No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu.

Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Césio-137, elemento químico de grande poder radioativo.

Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era assustadoramente quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial. Por fim, uma nuvem de material radioativo tomava conta da cidade ucraniana de Pripyat.

Ao terem ciência do acontecido, autoridades soviéticas organizaram uma mega operação de limpeza composta por 600 mil trabalhadores. Nesse mesmo tempo, helicópteros eram enviados para o foco central das explosões com cargas de areia e chumbo que deveriam conter o furor das chamas. Além disso, foi necessário que aproximadamente 45.000 pessoas fossem prontamente retiradas do território diretamente afetado.

Para alguns especialistas, a dimensões catastróficas do acidente nuclear de Chernobyl poderiam ser menores caso esse modelo de usina contasse com cúpulas de aço e cimento que protegessem o lugar. Não por acaso, logo após as primeiras ações de reparo, foi construído um “sarcófago” que isolou as ruínas do reator 4. Enquanto isso, uma assustadora quantidade de óbitos e anomalias indicava os efeitos da tragédia nuclear.

Buscando sanar definitivamente o problema da contaminação, uma equipe de projetistas hoje trabalha na construção do Novo Confinamento de Segurança. O projeto consiste no desenvolvimento de uma gigantesca estrutura móvel que isolará definitivamente a usina nuclear de Chernobyl. Dessa forma, a área do solo contaminado será parcialmente isolada e a estrutura do sarcófago descartada. 

Apesar de todos estes esforços, estudos científicos revelam que a população atingida pelos altos níveis de radiação sofre uma série de enfermidades. Além disso, os descendentes dos atingidos apresentam uma grande incidência de problemas congênitos e anomalias genéticas. Por meio dessas informações, vários ambientalistas se colocam radicalmente contra a construção de outras usinas nucleares.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Fukushima: a usina nuclear após o terremoto do Japão


Por Daniel Pavani em 20/03/2011 06:30
Desde o terremoto do último dia 11 no Japão e os consequentes danos a usina nuclear de Fukushima Daiichi, muito tem se falado sobre o que acontece nos reatores, os perigos da radiação, como os problemas poderiam ser resolvidos ou até mesmo evitados. Fato é que realmente existem muitos fatores importantes, desde o resfriamento dos reatores até medidas de contingência da radiação e evacuação da população.
O terremoto que balançou o Japão na semana passada chegou a incríveis 9 graus na escala Richter, causando tanto destruições pelo tremor quanto pelo tsunamisubsequente. Fukushima, na região nordeste do país, também foi atingida e, a partir de então, o problema se tornou maior ainda pelas avarias na usina nuclear presente na região, que possui seis reatores.
Mas para quem pode estar se perguntando o por quê da instalação de usinas nucleares tão próximas à costa, em uma região que sabidamente é sujeita a terremotos, a resposta é bem simples: estratégia. Reatores nucleares produzem energia elétrica fervendo água para que ela mova uma turbina a vapor, a qual acionará um gerador e produzirá a energia. A energia para aquecimento da água é liberada pela fissão atômica de um elemento radioativo como combustível.
Entretanto, para o controle das reações, que geram muito calor, alguns procedimentos de resfriamento dos reatores devem ser tomados. Assim, o oceano próximo é um fornecedor de água tanto para a controle da temperatura quanto para funcionamento do próprio reator. Vale lembrar que as únicas usinas deste tipo no Brasil também ficam na costa, em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Mais detalhes do funcionamento das usinas nucleares podem ser encontrados no site da Eletrobras Eletronuclear (goo.gl/hJIle), que gerencia as usinas Angra 1, 2 e 3.
Gráfico que explica sucintamente o funcionamento de um reator nuclear para a produção de energia elétrica. Crédito: Eletronuclear.
Gráfico que explica sucintamente o funcionamento de um reator nuclear para a produção de energia elétrica. Crédito: Eletronuclear.
O terremoto da última sexta-feira danificou quatro dos seis reatores da usina de Fukushima e as reações tiveram de ser interrompidas. Entretanto, este não é um processo simples e envolve processos tão delicados quanto a própria fissão nuclear. Os reatores 1, 2, 3 e 4 sofreram danos em suas estruturas e são os que causam maiores riscos de vazamento de gases radioativos. Aparentemente, os reatores 5 e 6 não tiveram danos em suas estruturas mas as autoridades acreditam que ainda pode haver risco de que os combustíveis radioativos sejam expostos ao ar. O site do The New York Times apresenta a situação atual de cada um dos reatores, com atualizações diárias.
No dia 14 de março, três dias após o terremoto, os reatores da usina já haviam sofrido com três explosões e o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, chegou a afirmar à imprensa internacional que o níveis de radiação estavam já muito altos, assim como contou o site CNET. Segundo Yukio Edano, chefe de gabinete do primeiro-ministro, após a explosão no reator 4 da usina, os níveis de radiação já atingiram 400 mSV (miliSieverts), 4 vezes mais que os níveis que tecnicamente não ofereceriam riscos à saúde.
Um dos principais perigos que agora as autoridades tentam resolver é o risco de derretimento nos reatores da usina. Quando o urânio (combustível nuclear) atinge temperaturas muito altas, ele deve ser resfriado, porém, isto está se configurando o grande problema em Fukushima. Caso o aquecimento não seja controlado, o urânio pode derreter, aumentando ainda mais o risco de explosão e liberação de gases radioativos na atmosfera. Se isso acontecer, o desastre seria incalculável.
O site do jornal The New York Times possui um infográfico (goo.gl/NTd15) muito interessante sobre os perigos que envolvem os reatores nucleares, como desligá-los e o que acontece em caso de um derretimento. Vale a pena conferir.
Talvez o exemplo mais emblemático de acidente com uma usina nuclear seja o que aconteceu em Chernobyl (pt.wikipedia.org/wiki/Chernobyl), na ex-União Soviética, hoje Ucrânia, em 1986. Os impactos da explosão do reator estão presentes por toda a região até hoje, tanto na população quanto no meio ambiente. Os impactos ambientais são tão grandes que os elementos radioativos liberados na atmosfera se tornaram inclusive marcadores cronológicos em seções geológicas e em estudos oceanográficos no Hemisfério Norte, por exemplo.
Foto aérea da usina Fukushima Daiichi no dia 14 de março. Crédito: PopSci.
Foto aérea da usina Fukushima Daiichi no dia 14 de março. Crédito: PopSci.
O site TG Daily chega inclusive a afirmar que este é o maior acidente nuclear desde o de Chernobyl. De acordo com o site, o Japão ordenou a evacuação de toda a população em um raio de 20 km da usina e mais de 210 mil pessoas deixaram a região desde sábado (12). Entretanto, as autoridades dos EUAaconselham que o raio de evacuação já deva ser de 80 km.
Nesta quinta-feira, o The New York Times contou que os níveis de radiação são tão altos que até mesmo os técnicos que trabalham no resfriamento dos reatores devem ser retirados da usina. Se isto for mesmo necessário, o problema pode ser ainda maior.
Para acompanhar os acontecimentos e novas notícias sobre os procedimentos de controle e segurança nos reatores da Fukushima Daiichi, o melhor site para isso é o da IAEA –International Atomic Energy Angency – a agência internacional de energia atômica